quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Espaço para apedrejar ou gueto para se proteger


Wanderson Lana¹

Performance é aquilo que não foi nomeado, que carece de uma tradição, mesmo recente, que ainda não tem lugar nas instituições. Uma espécie de Matriz de todas as artes.
Jocken Gerz



Sábado à noite na Praça Popular na capital Mato-grossense que de popular o espaço tem pouca coisa. Com bares e restaurantes que investem na gastronomia e no entretenimento, os valores praticados não leva em consideração a possibilidade de receber todos os públicos. Dessa forma, a Praça Popular é um espaço onde a classe média cuiabana vai se divertir.
Formado, por várias ruas e uma praça que se apresenta de maneira quase obscura e desabitada, o ambiente encontra fervor dos bares que ocupam várias esquinas e nome praça acaba por ganhar contornos do grande espaço formado pelos comércios e não necessariamente pela praça desabitada nas noites de festejos. Talvez por ser o único espaço popular – onde não se cobra estacionamento, taxas e “cover” – o abandono e isolamento seja característico.

E foi nesse espaço de abandono, no coração da boemia cuiabana, que surge a performance “Espaço para apedrejar” organizado por atores e performances de Cuiabá e de outras cidades de Mato Grosso dentro do projeto “100em1dia Cuiabá”. Os processos de uma performance são organizadas através de um programa e não uma dramaturgia pré-estabelecida ou, até mesmo um jogo de improvisação como sugere Eleonora Fabião em sua obra  Performance e Teatro: Poéticas e Políticas da Cena Contemporânea (2009).

Chamo as ações performativas programas, pois, neste momento, esta me parece a palavra mais apropriada para descrever um tipo de ação metodicamente calculada, conceitualmente polida, que em geral exige extrema tenacidade para ser levada a cabo, e que se aproxima do improvisacional exclusivamente na medida em que não seja previamente ensaiada. Performar programas é fundamentalmente diferente de lançar-se em jogos improvisacionais. O performer não improvisa uma idéia: ele cria um programa e programa-se para realizá-lo (mesmo que seu programa seja pagar alguém para realizar ações concebidas por ele ou convidar espectadores para ativarem suas proposições).
(FABIÃO, 2009, p. 03)

Eleonora Fabião parte dos estudos de Deleuze e Guatarri (1999) “Como Criar Para si um Corpo sem Órgãos” onde é apresentado o termo programa como o “motor de experimentação”. Assim, para Fabião, “Um programa é um ativador de experiência” (2009, p.03). Fazendo um paralelo com a proposta da ação 100em1diaCuiabá é possível percebê-lo como um grande ativador de experiência. Reuniões e organizações foram feitas e cronogramas criados, mas a potencia tomada pelas ações que o compunham se revelaram apenas na realização de suas ações. Existiu um programa, o ativador, mas a experiência só pode ser mensurada através da própria experiência.
O programa da performance “Espaço para Apedrejar” constituía-se em travestir-se – tanto homens como mulheres – circular pelo espaço delimitado no chão – um retângulo com a possibilidade em abrigar até 10 pessoas – e em determinado momento ficar imóvel devido às piadas homofóbicas que começam a tocar no som acompanhadas de sorrisos gravados. À frente do retângulo onde circulam os performans, amontoados de frutas podres que sugerem às pessoas, que circulariam pelo ambiente, a possibilidade de transformar em ataque o preconceito, atirando-as nos corpos trans que sorriem e conversam muito numa ode de felicidade. Além disso, o encontro era presenteado com um churrasco de “maminha na manteiga” e “linguicinha”

A Praça Popular, pode ser quase entendido pela comunidade LGBT como Friendly que são espaços frequentados por heterossexuais, nos quais homossexuais são bem vindos (Simões, França, 2005). “Quase entendido” pelo fato de bem-vindo poder ser substituído por “tolerado”. A Praça popular é um espaço frequentado por heterossexuais onde homossexuais são tolerados mediante à um comportamento adequado para os héteros do espaço.


Foto: Amilton Martins, Praça Popular, 2016

O que poderia apresentar-se como um espaço para fisicalidade da homofobia e/ou da transfobia, se fortaleceu como um espaço protegido de qualquer austeridade. Um gueto fisíco e intelectual se formou e todos podiam caminhar protegidos.
O termo gueto é geralmente utilizado para definir a área de uma cidade ocupada por grupos de religião e nacionalidades minoritárias, termo de origem europeia surgido em decorrência do antissemitismo nazista. Hoje, gueto dá conta de espaços onde grupos minoritários são forçados a viver ou decidem viver para se sentirem seguros. O que temos na performance “Espaço para apedrejar” é o grupo que se fortalece em quantidade e em discurso dentro de um ambiente escuro e afastado dos outros espaços da região da praça, onde as discussões homoafetivas não só acontecem, como faz aproximar apenas pessoas que tenham opiniões semelhantes e que pertençam ou são interessadas nas demandas das minorias.

gueto é importante na medida em que proporciona um ambiente de contatos no qual as pressões da estigmatização da homossexualidade são momentaneamente afastadas ou atenuadas. Nessas condições, o “gueto” não somente amplia a oportunidade de encontrar parceiros e viver experiências sexuais, mas também pode contribuir decisivamente para reduzir os sentimentos de desconforto e culpa em relação à própria sexualidade, reforçar a auto-aceitação do desejo e, eventualmente, a disposição para “assumi-la” em âmbitos menos restritos.
(SIMÕES e FRANÇA, 2005)


Hoje, outras palavras substituem gueto como o termo meio, mas dizem respeito a mesma condição de proteção. Se ainda há luta para que esses espaços não sejam necessários, pois evidenciam ainda a grande potencia homofóbica existente na sociedade, os guetos se apresentam como possibilidade de segurança para que transeuntes não atirem frutas podres plantadas na potencia do corpo alheio.

A comunidade homossexual tem um programa construído para viver todos os seus dias numa performance em que não se pode perecer, independente se são tomates, lâmpadas, carros, que são atirados. Estar junto ainda é uma maneira de estar seguro.



Referências:


AQUINO, Fernando; MEDEIROS, Maria Beatriz de (Org.). Corpos Informáticos. Performance, corpo, política. Brasília: Editora do Programa de Pós Graduação em Arte, UNB, 2011.

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Vol. 3. São Paulo: Editora 34, 1999

DELEUZE, Gilles. Espinosa, filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.

FABIÃO, E. Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea. In. Sala Preta, Revista do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da ECA-USP, n. 8, 2008
FRANÇA, Isadora Lins; Sobre “guetos” e “rótulos”: tensões no mercado GLS na cidade de São Paulo: Cadernos Paguu: Campinas, 2007

GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. 2. ed. São Paulo, Perspectiva, 2009

SIMÕES, Júlio Assis Simões e FRANÇA, Isadora Lins; Do “gueto” ao mercado. Academia.EDU, 2005.

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¹ Wanderson Alex Moreira de Lana é Ator, Enecenador e Dramaturgo. Graduado em História e Especialista em História da América Latina Contemporânea pela UFMT. Meste em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT e Doutorando em Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO/UFMT

Não cabe mais, gente: Corpos-em-Experiência.

Daniela Leite e Jan Moura.


O presente ensaio é resultado da disciplina de Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas, ministrada pela professora Doutora Maria Thereza de Oliveira Azevedo. Aqui, traçamos um olhar sobre a performance/composição urbana Não cabe mais, gente que experimentamos no 100em1dia[1], projeto que estimulou a realização de ações que, ligadas ao fazer artístico e social, ocuparam a cidade de Cuiabá no dia 3 de abril 2016.
Não cabe mais, gente é uma performance do in-Próprio Coletivo em parceria com a rede de pesquisadores-artistas[2] do grupo Artes Hibridas: intersecções, contaminações e Transversalidades coordenado pela professora Drª Maria Thereza Azevedo – ECCO UFMT, residentes na cidade de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso – Brasil. A ação performativa se dá no espaço público e inicia quando um grupo de artistas estica um material plástico (filme PVC) transparente em volta de dois pilares com cerca de dois metros de distância entre si, formando uma faixa que compreende sessenta centímetros do solo até um metro e oitenta centímetros de altura. Um pequeno vão de aproximadamente trinta centímetros de largura, fechado nas laterais pelo plástico, aberto em seu limite superior e inferior. Isso forma um envoltório estreito, onde um a um, entram os performers. Quase sufocados, eles tentam se movimentar. Na ação é possível criar outros corpos com formas alteradas pela pressão exercida contra a estrutura maleável. As diferentes partes dos corpos retorcidas, amassadas e achatadas, permitem, por sua vez, outras percepções que servem de estímulos para a elaboração de imagens e, ao mesmo tempo, desdobramentos no pequeno e sufocante espaço. O programa permite experimentar na relação entre os corpos e a instalação outros estados de presença[3].
 Foto: Ricardo Santiago
Há que se registrar que, segundo Eleonora Fabião (2008) as ações performativas são Programas, já que descrevem um tipo de ação metodicamente calculada, conceitualmente polida, que em geral exige extrema tenacidade para ser levada a cabo[4]. Assim, um programa é um ativador de experiência, uma ação em si mesma. Ou seja, Fabião vê o programa como dispositivo gerador de ações performativas, pois “anunciam que corpos são sistemas relacionais abertos, altamente suscetíveis e cambiantes. São vias, meios”. (FABIÃO, 2008, p. 238)
No caso específico do evento 100em1dia em Cuiabá, a ação/instalação se deu numa manhã de domingo, em plena Feira Popular do bairro CPA II, mais especificamente num antigo ponto de taxi da região. Não sabíamos que naquele dia haveria um bingo numa lanchonete em frente ao local da ação. Por lá haviam mesas e cadeiras dispostas por toda a calçada e alguns jogadores que competiam por um prêmio anunciado: frango com farofa.
 Foto: Ricardo Santiago

Achamos prudente pedir licença para o narrador do bingo (um senhor que com muito entusiasmo e irreverência “cantava” os números do bingo) para ocupar em conjunto aquele espaço já que o bingo havia sido montado primeiro. Ao abordá-lo, contamos da nossa intenção em fazer uma ação no espaço próximo a rua, no ponto de taxi e ele assentiu com a cabeça, mas perguntou para que iríamos usar o espaço. Avisamos que se tratava de uma performance e pedimos que ele não anunciasse a ação no microfone, visto que se tratava de uma composição urbana e a antecipação do aviso interferia no nosso trabalho. Ele novamente concordou com a cabeça.
Enquanto aguardávamos a chegada de todos os integrantes, passávamos por visitantes da feira. Essa imagem foi logo desconstruída assim que sacamos o rolo de plástico filme da mochila e iniciamos o invólucro nas hastes do ponto de taxi. (Depoimento da Thereza Helena, performer em Não cabe mais, gente).

Foto: Ricardo Santiago


Depois que esticamos o plástico e criamos o invólucro, nos separamos e caminhamos pela feira por alguns minutos. Em seguida passamos a entrar um por um na estrutura formada pelas duas colunas transparentes. Dentro do plástico tínhamos a sensação que a temperatura era cinco vezes mais alta que o lado de fora. Visto lá de dentro as frutas na barraca de feira e as pessoas que se juntaram em volta pareciam deformados pela lente embaçada do plástico somado ao nosso suor. Experimentávamos movimentos de aglomerar nossos corpos em todas as restritas direções e possibilidades dentro do plástico. Até o momento insustentável em que tentamos alguns furinhos para respirar até romper o plástico e se perder entre os transeuntes na feira. O plástico fica abandonado por um tempo, como uma memória do que se passou.
Sufocante ver o sufoco. Os atores no turbilhão da travessia aquosa, quase sólida, invariavelmente trancados pelos próximos e pelos anteriores, metamorfose acelerada de espera num ponto de ônibus ou estação de metrô em horário de pico. É o andar pela cidade que é quase um brigar para os desfavorecidos que não dispõem das pistas largas do asfalto veicular e recorrem às calçadas e passarelas e faixas de pedestres apinhadas. Vê-los rasgar e atravessar o sufoco e respirar fundo é uma quase catarse de libertação – ainda que contida (Ricardo Santiago, observador e fotógrafo do Não cabe mais, gente no 100em1dia).
Não cabe mais gente pretende estabelecer uma relação, seja entre os performers ou mesmo com o ambiente, o locus da ação e, também, com os transeuntes. A performance se configura como um disparador para uma experiência, como indica Nicolas Borriaud (2009). Segundo o autor:
A possibilidade de uma arte relacional (uma arte que toma como horizonte teórico a esfera das interações humanas e seu contexto social mais do que a afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado) atesta uma versão radical dos objetivos estéticos, culturais e políticos postulados pela arte moderna (BORRIAUD, 2009, p. 20).
Foto: Ricardo Santiago

A partir dessa ideia de interação, passamos a escutar os comentários dos transeuntes no entorno da performance.
Na medida em que esticávamos o filme transparente de um lado até o outro, os jogadores nos observavam interrogativos. Vendo que nossa ação chamava a atenção dos bingueiros, o locutor deu o seguinte recado: - Olha, o pessoal pediu pra não avisar que vai ter uma apresentação. Eu não vou avisar. Depois desse “desanúncio” os desavisados perguntavam se era propaganda do plástico e ouviam do pessoal sentado nas mesas que era um teatrinho. (Depoimento da Thereza Helena, performer em Não cabe mais, gente. Negritos nossos).
Os performers colocam seus corpos em contato direto com o corpo do transeunte, com a arquitetura urbana, mas o risco de sair dos espaços mais tradicionais, também subverteria uma forma tradicional da criação artística da cena? Estar em outros espaços, em outros roteiros, ampliar o contato com o espectador, que passa a ser não mais um voyeur de uma apresentação, mas agora um participante, seja questionando aquela situação, fotografando, filmando, tocando o plástico ou simplesmente estando ali, sendo provocador e provocado pela ação artística, subverte o cotidiano domesticado? Cria uma zona alternativa de experiência na urbanidade, longe dos processos cotidianos, automatizados e corriqueiros. E extrapolaria essa primeira impressão de “teatrinho”.
Como indica Thereza Helena, o comentário sobre o “teatrinho” feito por uma pessoa que acompanhava a ação nos chamou a atenção para a expectativa gerada pelo evento anunciado, já que, ao sair dos circuitos oficiais da arte, o teatro, a dança, a performance, as artes visuais, a música etc, carregam, além da vontade de testar outros espaços e materiais, um desejo de questionamento, de colocar o corpo em outras experiências possíveis.

Foto: Ricardo Santiago
Esse movimento contracorrente, a escolha, a busca por uma arte que interaja de forma mais intensa com a vida, carrega além de um interesse artístico uma atitude política. Silvia Fernandes (2010, p. 30), ao analisar a obra “Teatro Pós-Dramático” de Hans-Thies Lehmann, aponta para esse fazer teatral, como uma atividade com essência política, não só por seu conteúdo, mas por haver ali um questionamento sobre teatro dito tradicional, e não estar mais pautado no texto, mas na percepção, obrigando o seu espectador a ter um outro olhar, perceber de outra forma. Nesse sentido sua operação política seria a “introdução do novo e do caótico na percepção domesticada pela sociedade de consumo e pelas mídias de informação” (FERNANDES, 2010, p. 30).
A cena artística contemporânea tem demonstrado bastante interesse em experimentações que discutem a sua própria materialidade, apresentando obras que questionam os formatos tradicionais, experimentando outras dramaturgias, outros espaços, processos diferenciados de criação, saindo dos espaços tradicionais de apresentação, indo na contramão dos circuitos ditos especializados da arte (teatro italiano, galerias de arte, museus etc), talvez em busca de retomar uma arte que já foi misturada com a vida cotidiana, e que em algum momento se separou dela. Talvez a busca pela perfeição extrema, seja da própria obra em si, como a construção de um espaço privilegiado e perfeito para sua fruição, deu a arte um prestígio que muitas vezes a afastou do grande público, por uma longa trajetória de admiração, criou convenções e ritos de fruição da arte que, de certa forma, atrapalha ou dificulta o acesso de novas visões, isolando essa arte do cotidiano humano, separando-a da experiência real da vida. (DEWEY, 2010, p. 59)

Foto: Ricardo Santiago
Foto: Ricardo Santiago












O pesquisador argentino Jorge Dubatti (2007) considera que o teatro pode ratificar as questões macropolíticas da sociedade, reforçando hegemonias ou sendo um “teatro conformado”. Ou na contramão disso, pode criar “zonas de subjetivação alternativas”, a partir de uma micropolítica, fazendo o público rever sua posição na ação e exigindo um olhar diferenciado e atento para que, de fato, haja uma compreensão, mesmo que seja em outro nível, do sensorial ao invés do verbal:
La subjetivación teatral puede ser macropolítica o micropolítica. Puede producir una subjetividad que ratifica el statu quo y los imaginarios colectivos más extendidos y arraigados, un teatro del conformismo y la regulación social en la ratificación de la subjetividad macropolítica, es decir, la que se expressa en todos los órdenes de la vida cotidiana y sintetiza en los grandes discursos sociales de representación/ideología con un extendido desarrollo institucional (por ejemplo, la subjetividade del capitalismo o el neoliberalismo en la Argentina actual). En sentido contrario, el teatro puede constituirse en la zona de construcción de territorios de subjetividad alternativa, micropolítica, por fuera de la subjetividad y las representaciones macropolíticas (por ejemplo, las prácticas de los nuevos sujetos sociales de la postdictadura y su configuración – entre otras – en la poética del teatro comunitário). (DUBATTI, 2007, p. 162-163).
Dubatti (2007) considera então como micropolíticas, como oposição ou divergência às macropolíticas, os processos de criação, experimentação e apresentação da cena, do corpo em arte, que constituem como territórios alternativos, e estão militantemente posicionados contra a macropolítica e que aspiram ainda tomar seu lugar, propondo espaços autônomos de subjetivação. Nesse sentido o teatro é um ato ético, pois implica em um regime de associações e afecções para e na vida cotidiana, envolvendo toda a existência, criando poíesis no convívio (DUBATTI, 2007, p. 167).  
Para Dubatti (2007, p. 31), o teatro se manifesta como uma estrutura-matriz de acontecimento na cultura cotidiana, capaz de se inserir no meio e estabelecer relações periféricas, construindo espaços de comunhão com as outras artes e com a vida. O teatro acontece no espaço e no tempo da realidade imediata, pode criar situações que constituem nosso regime de experiência cotidiana em nosso mundo compartilhado:

El teatro es vivido, en principio, como algo que sucede en el ámbito de la cultura viviente. Ese es su primer rasgo de recurrencia: lo teatral sucede. Es un conjunto de hechos, es práxis, acción humana, trabalho humano (Marx), en las coordenadas espacio-temporales de la vida cotidiana. (DUBATTI, 2007, p. 31-32)
Cuando vemos teatro ejercitamos permanentemente la relación asimilativa y de contraste entre la experiencia cotidiana y el arte. Por su pertenencia a la cultura viviente y por el protagonismo de las acciones corporales (cuerpos vivos que generan con su propia materialidad la poíesis), el teatro está dentro del régimen de experiencia de la vida cotidiana, pero a la vez necesariamente se le opone: instala una deriva extracotidiana. (DUBATTI, 2007, p. 33)
Essas escolhas, ou tomadas de posição, frente a sua criação artística, e o modo como decidiu compartilha-las com o público, em especial as ligadas ao corpo em cena, conjugando tempo e espaço, possibilitam de maneira intensificada uma visão política, não só pelos conteúdos que carregam, mais por sua configuração estrutural, por seu caráter de espaço de reflexão e relação, de troca, de construção de uma estética partilhada (RANCIÈRE, 2005).
Para Medeiros (2011, p. 47), ações performáticas que são realizadas em espaços tradicionais (como bienais, museus, galerias, teatros etc), encontram um público mais preparado para a arte, mesmo que muitas vezes não tenham muita compreensão sobre a linguagem. Já na rua ela possui potência de surpresa, deslocando o espaço e modificando o tempo do transeunte. Encontram ali, aqueles que não ousariam entrar nessas instituições, seja por não sentirem confortáveis com isso, sejam simplesmente por não terem sido nem convidados.
O contato da performance na rua com o público do acaso, faz com que esses corpos sejam reprogramados. Acostumados com os fluxos tradicionais das ruas, e com as suas próprias questões, são de certa forma forçados a uma nova produção subjetiva. Os filósofos Guattari e Rolnik (1996) falam de uma produção de subjetividade capitalística, uma subjetividade que não é individuada, mas presente em todos os níveis da produção e do consumo, uma subjetividade social, formada por uma cultura de massa, que produz “indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão – não sistemas de submissão visíveis e explícitos (...), mas sistemas de submissão muito mais dissimulados” (1996, p. 16). Esse pensamento, proposto pelos autores, remete então a uma noção de subjetividade de natureza industrial, fabricada, modela, recebida, consumida, maquínica:
Tudo o que é produzido pela subjetivação capitalística – tudo o que nos chega pela linguagem, pela família e pelos equipamentos que nos rodeiam – não é apenas uma questão de ideia, não é apenas uma transmissão de significações por meio de enunciados significantes. Tampouco se reduz a modelos de identidade, ou a identificações com polos maternos, paternos, etc. Trata-se de sistemas de conexão direta entre as grandes máquinas produtivas, as grandes máquinas de controle social e as instâncias psíquicas que definem a maneira de perceber o mundo (GUATTARI E ROLNIK, 1996, p. 27)
Já Deleuze e Guattari (1996) afirmam que somos segmentarizados por todos os lados e por todas as direções. Somos programados e esquematizados em estratos que nos compõe. Trabalhar, criar, brincar, circular, o ato de viver está fechado em segmentações espaciais e sociais. “A casa é segmentarizada conforme a destinação de seus cômodos; as ruas, conforme a ordem da cidade; a fábrica, conforme a natureza dos trabalhos e das operações” (DELEUZE E GUATTARI, 1996, p. 83-84).
A performance Não cabe mais, gente constrói uma outra relação com seu público/participante, pautada na concepção dubattiniana de micropolítica, ou seja aquela que foge dos processos criativos tradicionais do corpo em cena e rompe ou tenta romper com essas operações capitalísticas, com a segmentariedade que nos compartimentaliza, ao propor outras formas de ação, ao descaracterizar o cotidiano automatizado, ao trazer outras operações. Traz uma provocação para que possamos enxergar outros modos de representação do cotidiano, ou um “aprender a habitar melhor o mundo”, criando uma experiência, uma estética relacional (BOURRIAUD, 2009, pág. 17), muito mais que uma relação voyerista de espectador frente à obra, o que é apresentado pode produzir uma subjetividade que ratifica o status quo e os imaginários coletivos mais hegemônicos e arraigados.
Foto: Ricardo Santiago
Essas formas que se colocam em fluxos diferenciados de criação, apresentação e posicionamento na vida cotidiana, criam uma experiência diferenciada, reaproximando a arte da vida cotidiana e alterando o que o senso comum entende por arte. Ela se mistura com o cotidiano, transformando os fluxos tradicionais de comunicação, forçando um outro olhar, criando de fato uma zona de subjetivação alternativa. As práticas performativas em espaços urbanos criam zonas de experiência micropolíticas (DUBATTI, 2007). A arte sai de seu patamar de obra intocável e se aproxima do cotidiano, passa a ser a experiência em si. Desse modo, a cidade se configura como um campo de experiências, pois permite e amplia a noção de proximidade, que para Bourriaud é o símbolo do estado de sociedade, pois permite o encontro fortuito e o acaso das relações, diferente de um estado de natureza que impedia qualquer encontro fortuito mais duradouro (BOURRIAUD, 2009, p. 21).
Costumamos entender a arte como uma obra física, frequentemente identificada com a construção de um livro, um quadro ou estátua, e distinta da existência humana. Para Dewey (2010, p. 59), a arte real é aquilo que o produto faz com e na experiência. Para o pesquisador, quando os objetos artísticos são separados das condições de origem e da experiência, constrói-se em torno deles um muro, separando arte e vida. Criar uma experiência real, aproximar a arte, o fazer estético no contexto urbano, rompe ou desmistifica essas separações.
O movimento dos performers em Não cabe mais, gente e, claro, de diversos outros artistas em outros espaços, ao extrapolarem os muros das instituições e circuitos tradicionais da arte e invadirem a cidade, o contexto urbano ou mesmo a própria ideia de performance, que rompe com a ideia de representação: o ser, o fazer e o mostrar, remetem esta arte a uma imbricação direta com a vida, reforçando a ideia de um possível patamar político da arte. Não o político pautado no conteúdo, mas na forma, no movimento, no ato de querer o contato, a relação. Estabelecer novos fluxos, romper com as estruturas hegemônicas de subjetivação capitalística. Ser experiência e reaproximar da vida.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Fernando; MEDEIROS, Maria Beatriz de (Org.). Corpos Informáticos. Performance, corpo, política. Brasília: Editora do Programa de Pós Graduação em Arte, UNB, 2011.
BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Martins, 2009. .
COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2004.
DELEUZE, Gilles e GUATARRI, Felix. Mil Platôs : Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1. Trad. Aurélio Guerra Neto, Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro : Editora 34. 1995
___________. Mil Platôs : Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 3. Trad. Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. Rio de Janeiro : Editora 34, 1996
DEWEY, John. Arte Como Experiência. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
DUBATTI, Jorge. Filosofía Del Teatro I: Convivio, Experiencia, Subjetividad. Buenos Aires: Atuel, 2007.
FABIÃO, E. Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea. In. Sala Preta, Revista do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da ECA-USP, n. 8, 2008.
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. In: Sala Preta, Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Eca/USP, São Paulo, n. 08, 2008.
FERNANDES, Silvia. Teatralidades Contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: Fapesp, 2010.
GUATTARI, E e ROLNIK, S. 1986 Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes.
GUÉNOUN, Denis. O teatro é necessário? Trad. Fátima Saadi. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2004
_______________. A Exibição das Palavras: Uma idéia (Política) do Teatro. Trad. Fátima Saad. Rio de Janeiro: Teatro do Pequeno Gesto, 2003.
JACQUES, Paola Berentein e BRITTO, Fabiola Dultra. Corpografias Urbanas: Relações entre Corpo e Cidade. In LIMA, Evelyn Furquim Werneck (Org.). Espaço e teatro: do edifício teatral à cidade como palco. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-Dramático. Trad. Pedro Sussekind. São Paulo: CosacNaify, 2007.
_____________________. Teatro Pós-Dramático e Teatro Político. In GUINSBURG, J. E FERNANDES, Silvia (Org.). O Pós-Dramático: Um conceito operativo?. São Paulo: Perspectiva, 2010.
PAVIS, Patrice. A Encenação contemporânea: origens, tendências, perpectivas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2010.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO experimental org. Ed. 34, 2005.
RANCIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. Trad. Ivone C. Beneditti. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
_________________. O Inconsciente Estético. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: Ed. 34, 2009.





[1] O 100em1dia é um movimento mundial que acredita na potencialidade da iniciativa criativa e nas habilidades dos habitantes da cidade para melhorar os modos de viver nela. Surgiu em Bogotá em 2012 e já se espalhou pelo planeta: Kopenhagen, Toronto, Milão, Montreal, Santiago do Chile, Genebra, Cidade do Cabo entre outras. No Brasil, Rio de Janeiro e Blumenau. Cuiabá foi a 3ª cidade brasileira e a 28ª cidade do mundo a realizar o 100em1dia. Disponível em: <http://100em1diacuiaba.org/100em1dia/>. Acesso em 23 jun. 2016.
[2] Participaram da performance Não cabe mais, gente os artistas: Daniela Leite, Jan Moura, Elka Victorino, Thereza Helena, Karina Figueredo e Felipe Vicentin.
[3] Conforme GUMBRECHT (2004), considera-se presença como um modo de estar no mundo, definido como uma cultura da presença em oposição ou complementar ao predomínio contemporâneo da cultura do significado. Apreender a “produção de presença” é apreender todos os tipos de processos nos quais se inicia ou se intensifica o impacto dos objetos ‘presentes’ sobre corpos. Uma “presença” é algo tangível, com o qual mantemos uma relação no espaço e que tem algum tipo de impacto sobre o corpo e os sentidos.
[4] A inserção da palavra-conceito “programa” na teoria da performance vem do texto “como criar para si um corpo sem órgãos” de Gilles Deleuze e Félix Guattari, onde se propõe que programa é “motor de experimentação” (Deleuze & Guattari, 1999, p. 12).

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Aparas do meu lápis, minha feira, meu contexto cidade.

Thereza Helena de Souza Nunes


Há  as que resistiram aos ventos fortes de Bogotá, as que moravam dentro da caixa quando ela ainda era de papelão e também as que ficaram pelo caminho. As aparas do meu lápis já registraram memórias sobre filhotinhos vira-latas e tatuagens em terras internacionais, mas é sobre as que ficaram pelo chão na minha cidade, no meu bairro e na minha feira de domingo que vou escrever hoje.
As paredes já tinham sido quebradas e eu necessitava de um espaço mais amplo, mais movimentado, mais genuinamente vivo que a sala de espetáculos para meus experimentos artísticos. Eu ansiava por pessoas passando, indo e vindo em seus trajetos singulares, pois desejava provocar um desvio nesses caminhos. Tomada pela ideia de que a sala de ensaio poderia ser expandida para qualquer lugar que meu corpo ocupasse, eu procurava pela cidade um lugar para abrigar minha nova criação. Caminhando entre pernas corridas e faixas de pedrestre, percebi que a cidade era o lugar. Com essa percepção foram fundamentais os apontamentos de Borriaud sobre o tema, dos quais destaco: "A cidade permitiu e generalizou a experiência da proximidade: ela é o símbolo tangível e o quadro histórico do estado de sociedade, esse estado de encontro fortuito imposto aos homens". (Borriaud, 2009, p. 21).
Sou atriz e a experiência de criar com a cidade diferia das minhas referências artísticas anteriores (mas não menos importantes, vale dizer) do teatro tradicional, me preparei para enxergar potência fora do campo da representação já que buscava a estreiteza com o cotidiano. A esse respeito as letras de Paul Ardenne e Renato Ferracini fomentaram a minha experimentação: a criação foca mais na “presentação”, ação de estar presente, vigilante, do que na representação (Ardenne, 2006) e pode provocar nas pessoas uma resposta que conecta a arte ao cotidiano, aproximando-a da experiência real da vida. “A experiência tem o potencial de dobrar o fluxo comum e de afetar, produzir um nódulo, um aglomerado, um desvio potente de vida”. (FERRACINI, 2006, p. 37).
Envolvida no processo de reivindicar a cidade como espaço para a arte, cito Medeiros: “A arte que fugiu de casa: deixou a escola e foi aprender na rua, deseja ser aberta à participação”. Nessa afirmação comparo o termo casa às estruturas do teatro convencional e rua à cidade. Com o desejo de redimensionar, reescrever e contaminar o trabalho, eu levava meus dois banquinhos para um ponto movimentado, posicionava-os lado a lado e colocava entre eles o pote de lápis e a caixa. Em seguida sentava, observava o movimento e começava a apontar os lápis.
Podia ser uma praça, um cruzamento, um ponto de ônibus, mas no 3 de abril do 100em1 dia foi na feirinha do bairro Cpa II, a minha feirinha de domingo. Instalei meus lápis entre duas barracas, a de frutas e a do Zé do Feijão. Seu Zé acostumado a me ver e  perguntar se ia o de sempre, 1 kg de feijão fantasia que só a barraca dele vende, minutos depois de iniciar os apontamentos dos lápis, talvez incomodado com a minha observação insistente, veio especular o motivo de eu estar sentada ali. Enquanto respondia eu continuava apontando os lápis.  As aparas caíam na caixa e só então soube que Zé do feijão se chama Antônio, tem dois filhos já formados e não sabia que eu era artista. Uma freguesa veio pedir o troco, então seu Antônio me devolveu o apontador com o lápis. Eu fechei a caixa e metaforicamente guardei ali dentro a memórias da nossa conversa, equilibrei a caixa no topo da cabeça e iniciei a caminhada arriscada de Apontamentos: Memórias em Percurso.
Cuidar dos pés para que não tropeçassem nos buracos da rua transformada em comércio pelas inúmeras barraquinhas era um desafio para a caixa equilibrada no alto da minha cabeça. Flexionar os joelhos para desviar a cabeça dos fios quem com gambiarra amarravam as tendas umas as outras formando uma enorme rede decepadora de cabeças até para os não tão altos é que foram elas. A cada passo um chamado a provar a melancia doce, ou aproveitar a promoção do abacaxi a dois por 5. Porém a maior surpresa nessa polifonia a céu aberto foi o cantador das pedras do bingo anunciando no microfone que conforme o combinado, não iria avisar que estava acontecendo uma apresentação.
Assim que finalizei o percurso e me preparava para mais uma ação das 100 planejadas para presentear Cuiabá naquele dia, cruzei com outro grupo de colegas performando ali, se deixando regar entre vendedores de pen drive já com músicas, tênis Nike semioriginais ambos ocupando aquele espaço de troca, compondo o contexto de nossa cidade. Ali atravessada pelas histórias compartilhadas comigo entre um lápis e ação Regue do Comadança vi o estreitamento entre arte e vida onde eu buscava pastel frito e caldo de cana.  Nesse sentido encontrei em Borriaud faíscas para alimentar essa observação: "As obras já não perseguem a meta de formar realidades imaginárias ou utópicas, mas procuram constituir modos de existência ou modelos de ação dentro da realidade existente, qualquer que seja a escala escolhida pelo artista". (BORRIAUD, 2009).
Em nenhum domingo antes daquele eu percebi uma troca tão potente de vivências. Eu comumente saía da feira com a sacola carregada de verduras para a semana, mas nesse domingo a sacola ficou cheia de material para o meu ofício. Nesse contexto eu me via como a artista que participa da vida, como menciona Medeiros:
O artista, no mundo, é vida, participa da vida, traz vidas às pessoas-robôs, permeia os porquês. O artista na rua(...) compõe e decompõe. A composição urbana evidencia o delírio que a cidade-sociedade passa e passa correndo; sem ver, ouvir, tocar ou massagear. (MEDEIROS, 2015, p. 2)
Legitimando a cidade como o meu espaço de atuação para o referido trabalho, considerei alguns termos que se referiam a produções envolvendo a cidade. Os principais eram: intervenção e interferência urbana. No entanto, ambas as abordagens me soavam agressivas e autoritárias demais. Vi na proposta da composição urbana trazida por Beatriz Medeiros elementos de ação mais maleáveis: “Compor é massagear os espaços, aí implantar desvios, rios, meandros antes invisíveis”. (MEDEIROS, 2015).
Vendo no meu trabalho, na performance “Regue” a suma importância da colaboração tanto do espaço quanto do público para a realização da obra, trago para a pauta novamente Borriaud:
Ainda na constituição da concepção do meu processo vi na possibilidade de uma arte relacional uma arte que toma como horizonte teórico a esfera das interações humanas e seu contexto social mais do que a afirmação de um espaço simbólico, autônomo e privado. (BORRIAUD, 2009, p. 19)
Nesse sentido quando vi algumas das aparas de lápis espalhadas pelo chão, a água que tinha regado os “pés de gente” dos garotos que fazem a performace “Regue” na qual vestidos somente com uma calça jeans e uma muda de planta envolta no corpo por plástico filme se deixam regar pelos transeuntes, evoquei Medeiros “A performance de rua inscreve, escreve, escorre no corpo da cidade para aí deixar sua cicatriz: sinal nomadizante, por oposição aos sinais normatizantes da sociedade de controle, que torna possível uma dimensão poética. Censura, ruptura, debate”. (MEDEIROS, 2005).
Registrei o que pude com a câmera do celular, e me preparei para desenrolar mais plástico, dessa vez para a performance “ Não cabe mais Gente” que também seria “desanunciada” pelo locutor do bingo que ainda não tinha acabado.



Referências Bibliográficas:
Leituras, S. M. E. "Notas sobre a experiência e o saber de experiência." (2006).
de Gasperi, Marcelo Eduardo Rocco. "OEstreitamento ENTRE O ESPECTADOR E A CENA CONTEMPORÂNEA."

Ferracini, Renato. "O corpo cotidiano e o corpo-subjétil: relações." III Congresso Brasileiro De Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas. 2003.

García Canclini, Néstor. Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. México, 1989.


BOURRIAUD, Nicolas. "Estética Relacional: tradução." Denise Bottman–São Paulo Martins fontes (2006).

MEDEIROS, Beatriz; Composições urbanas, http://grafiasdebiamedeiros.blogspot.com.br/2014/05/composicao-urbana-surpreensao-e.html

MEDEIROS, Beatriz: Iteração, participação e performance, http://grafiasdebiamedeiros.blogspot.com.br/2014/05/composicao-urbana-surpreensao-e.html